quarta-feira, 7 de abril de 2010

Com a Tríade aprendi três coisas: escrever, imaginar e amar
Não uma escrita que se ache pronta, ao contrário, uma escrita que ainda sabe que está no meio do caminho, antes do meio. Não uma imaginação que se ache infalível, não, aquele tipo de imaginação que se entrega ao delírio das coisas não ditas, mas ciente de que são só delírios e para se transformarem em alguma coisa (um conto, por exemplo) precisa-se de muito trabalho. Não um amor que só se entrega às coisas perfeitas, ao contrário, um amor que sempre está ciente das qualidades e defeitos do ser/coisa amados.

São seis anos de trabalho onde esses três elementos vem ganhando força, maturidade. Acredito, hoje, depois do projeto concluído, que esses sãos os elementos que qualquer (pretenso) artista da palavra precisa dominar para sair do assoalho do medíocre e começar a erguer algo consistente: tem que saber escrever (bem óbvio), imaginar (insiro aqui delirar, enlouquecer) e amar.

E como aprendi isso?

Escrever, acho, parece óbvio, foi com a prática. Muita prática. Não somente a prática do meu texto, longe disso! Aprendi muito com a prática dos outros, comparando, lendo e relendo. Nesse “outros” coloco não só os ilustres escritores que dividiram comigo essa peleja (rs), mas os escritores todos, que li e reli (ficção, ou não). Aprendi discutindo e percebendo que se a palavra não diz, não diz e pronto, não perca seu tempo explicando o que quis dizer. Texto é igual a filho, é feito pro mundo e tem que se garantir, não adianta querer proteger.

Imaginar. Muitas vezes a minha mãe foi chamada à escola. A reclamação era sempre a mesma, é um ótimo menino mas presta pouca atenção à aula, quando não está conversando, está rabiscando algo no caderno. Minha mãe vinha então conversar comigo, dizer que eu tinha que prestar atenção. E imaginar ganhava um tom de errado, sonhar algo restrito aos cobertores. Sempre lutei com isso, como uma loucura que pudesse me consumir a qualquer momento, uma infância que não queria dar lugar à maturidade. A Tríade me ensinou que o delírio é parte da sanidade, controlar e se entregar a ele faz parte da tal maturidade. Somos, em essência, loucos, temos o pé em universos paralelos. Se o que se imagina morrera em nossos sorrisos solos em uma sala de espera, ou se vai virar um filme de bilhões de dólares em orçamento, bem, acho que aqui conta muito trabalho com outro tanto de sorte. Mas imaginar é fundamental, para quem trabalha com as mãos ou com a cabeça.

Amar, também, acho que mora dentro do óbvio. Quem é casado, ou viveu um relacionamento mais longo sabe o que vou dizer, viver com alguém não é fácil. Articular suas idiossincrasias com a de outra pessoa, imagine com a de quatro pessoas! Não há como fazer isso sem algo de amor, um projeto, qualquer um, morre sem essa pitada. No meu caso, tive que aprender a amar os meus amigos de jornada, aprender a calar e xingar. Os personagens, vivi muito com eles e tive que aprender a dar voz para suas qualidades e defeitos sem manipulá-los, como se deve ser. E ao projeto, toda essa saga, acreditando que não seria só uma grande perda de tempo. A experiência do amor, das três, é o que torna as palavras receptáculos do eterno e não somente um conjunto de símbolos que representam histórias.

É isso, sei que esse texto é muito passional. Sei também que, talvez, não era isso que esperava encontrar aqui. Contudo, é com ele que escolho começar, algo que dedico àqueles que estão no começo de uma jornada que se fará longa; no meio de uma que já se arrasta por muito tempo; ou no fim de alguma que não obteve êxito. E também porque é aqui que está a essência do que será publicado em breve, esse almagama de palavras, delírios e amor.

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